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O nascimento da Comunidade Israelita de Lisboa

A atual comunidade judaica de Lisboa tem a sua origem nos grupos de judeus sefarditas que se instalaram em Portugal no início do séc. XIX.

Eram na sua maioria negociantes, provenientes de Gibraltar e Marrocos (Tânger, Tetuão e Mogador) e alguns dos nomes ainda exprimiam uma ligação às suas terras de origem ibérica, antes do período da expulsão. É o caso de CONQUI (de Cuenca, província de Cuenca) ou CARDOSO (de Cardoso, Distrito de Viseu).

Eram pessoas com nível cultural acima da média, que sabiam ler e escrever, e falavam, para além do hebraico litúrgico, Árabe, Inglês e Haquitia, dialeto judeu-hispano-marroquino. Tinham numerosos contactos internacionais, não só devido às suas atividades comerciais mas também aos seus laços familiares espalhados pelo mundo. Estes fatores explicam o rápido florescimento económico e cultural, não só dos judeus de Lisboa como também dos grupos que se foram instalando nessa primeira metade do séc. XIX nos Açores e em Faro.

Paralelamente à sua integração rápida e bem-sucedida na vida portuguesa, os primeiros grupos de judeus procuraram logo organizar-se como tal, criando salas de oração e adquirindo terrenos para enterrar os mortos segundo o ritual judaico. A primeira sepultura conhecida é a de José Amzalak, falecido a 26 de fevereiro de 1804 e enterrado num terreno pertencente ao Cemitério Inglês da Estrela, sem dúvida devido à nacionalidade inglesa dos primeiros judeus de Lisboa, originários de Gibraltar.

Nessa altura, os judeus ainda eram considerados como uma colónia estrangeira e a comunidade ainda não tinha existência legal. A Carta Constitucional de 1826 reconhecia apenas o catolicismo como a única religião permitida aos cidadãos portugueses, remetendo os outros cultos para os estrangeiros. Esse é o motivo pelo qual na época se falava de “colónia” israelita, tal como se falava de colónia inglesa ou alemã.

Não podendo obter a legalização da comunidade, os judeus de Lisboa foram criando, sobretudo na segunda metade do séc. XIX, instituições de beneficência sob a forma de associações autónomas, cujos estatutos eram submetidos à aprovação do Governo Civil ou sob a forma de fundações privadas, geralmente dirigidas por senhoras. Estas instituições desempenharam um papel decisivo na união e organização do judaísmo português. Citaremos apenas três:

> Somej-Nophlim (Amparo dos Pobres): criada em 1865 por Simão Anahory, com o objetivo de socorrer os pobres. Mais tarde, em 1916, esta associação abriu o Hospital Israelita, que tão importante papel veio a desempenhar no apoio aos refugiados israelitas durante a 2ª Guerra Mundial.

> Guemilut Hassadim: fundada em 1892 por Moses Anahory para ministrar os socorros espirituais e tratar dos enterros judaicos.

> Cozinha Económica: nascida em 1899, desempenhou, tal como o Hospital Israelita, um papel fundamental durante a 2ª Guerra Mundial.

Outro passo decisivo para a constituição da atual Comunidade Judaica de Lisboa é dado em 1894 com a realização de uma Assembleia Geral dos Judeus de Lisboa, com o fim de unificar os serviços de Shehitá (abate ritual e aprovisionamento de carne casher).

Sob o impulso de Isaac Levy e Simão Anahory, inicia-se um processo que culmina na criação, em 1897, de uma comissão para a edificação de uma sinagoga única e com a eleição do 1º Comité da Comunidade Israelita de Lisboa, cujo Presidente Honorário é Abraham Bensaúde e o Presidente Efetivo é Simão Anahory.

Reconhecimento Oficial da Comunidade

A luta pelo reconhecimento oficial da comunidade israelita de Lisboa marcou o século XIX. Em 1826, a Carta Constitucional reconhecia o catolicismo como única religião oficialmente permitida aos portugueses, remetendo as restantes convicções religiosas para o foro privado, apenas permitidas a estrangeiros.

No entanto, existem dois alvarás régios que reconhecem implicitamente a existência de uma comunidade judaica de Lisboa:

– o primeiro é um alvará promulgado pelo Rei D. Luís, datado de 1868, reconhecendo aos “judeus de Lisboa a permissão de instalar um cemitério para a inumação dos seus correligionários” – o cemitério da Calçada das Lages, ainda hoje em funcionamento; Este diploma régio tem uma importância histórica real, dado que constitui um reconhecimento implícito, embora ainda não formal, da Comunidade Israelita de Lisboa

– o segundo tem a data de 1892 e foi proclamado pelo Governo Civil, ratificando os estatutos da “Associação Guemilut Hassadim, irmandade israelita de socorros mútuos na hora extrema e funerais”.

Estes dois documentos deram início a um processo de reconhecimento da existência legal da religião judaica em Portugal, que culminou na promulgação oficial da aprovação dos estatutos da Comunidade Israelita de Lisboa por parte do Governo Civil de Lisboa, legalizados pelo alvará de 9 de maio de 1912, precisamente 416 anos depois do Édito de Expulsão de 1496 por D. Manuel e quase um século depois da extinção da Inquisição, em 1821.

O reconhecimento oficial da comunidade e a construção da sinagoga vieram dar um novo impulso à vida comunitária em Lisboa. Assim, logo em 1912 é criada a Associação de Estudos Hebraicos “Ubá le Zion”, cujo grande dinamizador é Adolfo Benarus, professor da Faculdade de Letras de Lisboa, escritor e pedagogo, e também fundador em 1929 da Escola Israelita, que chegou a ter perto de uma centena de alunos. A criação de um boletim, dirigido por Joseph Benoliel, elo de ligação entre os membros da comunidade, a organização de uma biblioteca em 1915 e a fundação da Associação da Juventude Israelita Hehaver, em 1925, são outros marcos da consolidação da hoje moderna Comunidade Israelita de Lisboa.

O apoio aos refugiados da Segunda Guerra Mundial

Contudo, a comunidade vai conhecer, por força dos acontecimentos europeus, uma alteração profunda, quer na sua ação quer na sua composição. As perseguições antissemitas no Leste e a rápida ascensão do nazismo na Alemanha começam a fazer chegar a Portugal os primeiros judeus asquenazim, que rapidamente se integram na sociedade portuguesa e na comunidade.

O desencadear da Segunda Guerra Mundial, a política de neutralidade a que Portugal se remeteu no quadro da aliança com a Inglaterra e a concessão de vistos de trânsito a perto de 100 mil refugiados levam a um afluxo de dezenas de milhares de judeus a Portugal. Os poucos que ficaram, alteraram as proporções maioritariamente sefarditas da comunidade de Lisboa.

Os judeus portugueses tiveram neste período um papel importante no apoio aos refugiados, primeiro através da criação da “Comissão Portuguesa de Assistência aos Judeus Refugiados em Portugal” (COMASSIS), dirigida por Augusto Esaguy, e mais tarde diretamente através da secção de apoio aos refugiados da própria Comunidade, presidida por Moisés Amzalak e cujo grande animador foi Elias Baruel. Financiada pela Joint e outras instituições judaicas internacionais, a comunidade manteve a Cozinha Económica e o Hospital Israelita, fornecendo diariamente alimentação, vestuário e cuidados de saúde aos refugiados.

Até aos anos 60, a comunidade manteve-se demograficamente estável. No entanto, a criação do Estado de Israel e a eclosão da Guerra Colonial levaram à partida de algumas famílias.

A abertura política do pós-revolução de Abril e das fronteiras, a entrada de Portugal na União Europeia, a lei da nacionalidade para descendentes sefarditas e outros fatores geopolíticos e sociais tem feito chegar ao nosso país cidadãos judeus originários de diversas geografias, principalmente de Israel, Europa e do Brasil. Esta realidade, que tem vindo a acelerar-se nos últimos anos, está a dar uma nova configuração e dinamismo à comunidade judaica em Portugal.

Hoje, apesar do recrudescimento do antissemitismo e da tendência para uma assimilação progressiva em todo o mundo, a comunidade judaica de Lisboa e em Portugal tem crescido e se desenvolvido de forma significativa. Neste sentido e, em resposta a esta nova e promissora realidade demográfica,  também se tem fortalecido e ampliado a sua estrutura, organização, que hoje conta uma série de serviços essenciais existentes a funcionar, nomeadamente : Serviços Religiosos na Sinagoga, Cemitério e Hevra Kadishá, Estrutura para Cashrut e certificações de produtos, Centro Social (country club), Movimento Juvenil Judaico, Coro Musical, Grupo de Dança, Mikvê, Departamento de Ensino Judaico, Shiurim, palestras e atividades sociais, inúmeros eventos e celebrações e a Associação de Beneficência Somej Nophlim.

MISSÃO

Corresponder às expectativas e interesses individuais e coletivos dos associados, fortalecer as suas afinidades e a sua coesão, assegurar condições ótimas para o desenvolvimento da sua identidade e da continuidade da vida judaica em Portugal – dentro dos valores tradicionais do judaísmo e num contexto acessível, plural e democrático – e zelar pelos bens e interesses comunitários.

VISÃO

Tornar a comunidade numa entidade judaica portuguesa bem-sucedida, tolerante e aberta à adesão e à participação ativa do maior número possível de correligionários, financeiramente equilibrada e reconhecida de forma positiva pelos correligionários e pela sociedade em geral.

VALORES

Valores Associativos

Ética, integridade, honestidade, justiça, transparência e diligência.

Competência e liderança baseada numa visão de futuro e inovação constantes.

Colaboração, integração e parceria.

Responsabilidade social e contribuição positiva para a sociedade.

Valores Judaicos

Torá

Avodá (culto)

Hessed (bondade)

Ticun Olam (equidade social)

Tzedacá (solidariedade social)

Col Israel Arevim Zé Lazé (responsabilidade correligionária)

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